sexta-feira, 30 de maio de 2025

Mulheres policiais penais federais, inspiradas no exemplo da Paraíba, vão escrever livro inédito no sistema penitenciário federal


Foto: Edson Matos

   

    Mulheres policiais penais federais, inspiradas no livro Mulheres que fazem acontecer no Sistema Penitenciário da Paraíba, publicado em 2024, vão escrever livro inédito no âmbito do sistema penitenciário federal. 

    Este policial penal e jornalista paraibano Josélio Carneiro sente-se honrado em  ter sugerido a produção desta futura coletânea. A policial penal federal Emanuelle Souto está convidando colegas Brasil a fora e corodenan o projeto. 

    Estou engajado no projeto que ano passado, em contato com algumas talentosas policiais penais federais, apresentei a ideia. É nossa pequenina Paraíba sendo protagonista no campo literário prisional, incentivando profissionais de segurança pública a documentar em livros suas trajetórias, seus conhecimentos.   

    Serão depoimentos sobre experiências profissionais de cada uma das autoras com enfoque no empoderamento das mulheres na conquista de espaços. Vale a máxima: Lugar de mulher é onde ela quiser.

     A obra paraibana foi escrita por 35 mulheres, sendo 16 policiais penais, professoras, psicóloga, médica, assistente social, jornalistas, enfermeira, técnica de enfermagem e uma juíza convidada


Por: Josélio Carneiro


quinta-feira, 29 de maio de 2025

Seap entrega sala de aula na Cadeia Pública de Princesa Isabel em parceria com Prefeitura e TJPB



Na manhã desta quinta-feira (29), a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária da Paraíba (Seap), juntamente com a Prefeitura do Município de Princesa Isabel e o Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB), inaugurou uma sala de aula na Cadeia Pública da cidade. A medida está integrada ao projeto de expansão de salas de aula em unidades prisionais para reeducandos.


A ação do Governo do Estado da Paraíba é resultado do trabalho integrado das Secretarias de Estado da Administração Penitenciária e da Educação, proporcionando, assim, um maior acesso dos reeducandos à educação.


A entrega ocorreu durante uma visita institucional do atual presidente do TJPB (biênio 2025/2026), o Desembargador Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho. Estiveram presentes também o presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba no biênio 2023/2024, Desembargador João Benedito da Silva; o corregedor do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Conselheiro Antônio Nominando Diniz; o secretário da Seap, João Alves de Albuquerque; o prefeito da cidade de Princesa Isabel, Ednaldo de Melo; o chefe de gabinete da Seap, Tércio Chaves de Moura; o presidente da Câmara Municipal de Princesa Isabel, Jaildo Paulino; o promotor de Justiça Rafael de Carvalho Silva Bandeira; o gerente executivo de Ressocialização da Seap, João Rosas; o diretor da Cadeia Pública de Princesa Isabel, Fábio Tenório de Araújo; dentre outras autoridades.



O secretário João Alves, em seu discurso, falou do compromisso da Seap em avançar com novos projetos de ressocialização: “Temos vários projetos e a nossa gerência de ressocialização já recebeu a missão de voltar aqui à princesa Isabel para fazer uma avaliação e entrevista com os reeducandos, e saber o que faziam antes de chegar na unidade prisional e o que a gente pode implementar de projeto. Eu já recebi o aval do prefeito do município, bem como do secretário Ricardo, e a determinação do senhor governador é ressocializar, é devolver esse cidadão para a sociedade, melhor do que ele entrou, mas com capacidade para tocar a sua vida no modo correto, da forma correta e justa. Então, essa é a nossa missão, estamos trabalhando para cumprir e cumpriremos com certeza”, expressou.


Durante a agenda, também foram registrados os seguintes marcos:




— Assinatura do termo de cessão de quatro hectares de terras ao TJPB para a construção de uma usina de energia solar;


— Sessão Solene na Câmara Municipal de Princesa Isabel – Casa Adriano Feitosa Cavalcante, com a inauguração da reforma do plenário da casa. Na ocasião, o presidente do TJPB Desembargador Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho recebeu o título de Cidadão Princesense e a Comenda Natália do Espírito Santo;


— Entrega da sala de aula climatizada na Cadeia Pública de Princesa Isabel. A nova sala é climatizada e atenderá 55 reeducandos em diversos ciclos do ensino fundamental e médio, por meio de parcerias com escolas estaduais.


Distribuição dos alunos conforme a escola e ciclo:


EEEFM Professora Iracema Marques de Lima (Estadual):


Ciclo I – 1º a 3º ano do Ensino Fundamental I = 8 alunos


Ciclo II – 4º e 5º ano do Ensino Fundamental I = 9 alunos


EEEFM Ministro Alcides Vieira Carneiro (Estadual):


Ciclo III – 6º e 7º anos do Ensino Fundamental II = 9 alunos


Ciclo IV – 8º e 9º ano do Ensino Fundamental II = 9 alunos


EEEFM Gama e Melo (Estadual):


Ciclo V – 1º e 2º ano do Ensino Médio = 14 alunos


Ciclo VI – 3º ano do Ensino Médio = 6 alunos


Total de alunos atendidos: 55


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Ascom-Seap/PB 

ENTREVISTA: Thiago Robson Lopes, presidente do Conselho da Comunidade – Comarca João Pessoa

 

 


           Senhores e senhoras que integram o sistema prisional paraibano e que comungam, lutam, sonham com a redução da reincidência criminal a partir da reinserção social, leiam por favor este didático e encorajador depoimento do colega policial penal Thiago Robson. É revelador, e, quem de fato abraça os eixos sociais de nosso sistema – e graças a Deus são muitos – se sentirá ainda mais estimulado a investir nesses parâmetros, além de também contribuir com seus conhecimentos, seus ideais, partilhando aprendizado.

 

Particularmente meu sentimento é de gratidão a Deus por me proporcionar a concepção do livro Policiais Penais da Paraíba – PERFIS, obra que se tornará didática e depois histórica. Quando idealizei o livro foi com a visão macro de expor, exibir perfis, talentos, e assim, todos nós autores (as) darmos nossa parcela de contribuição ao sistema prisional, aos secretários – nossos gestores superiores – às autoridades judiciárias, aos reeducandos e seus familaires e porque não à sociedade!

 

Tenho recebido relatos importantíssimos dos colegas que foram convidados e aceitaram me conceder entrevista. Modéstia à parte, esse livro trará inegável contribuição ao Governo da Paraíba e ouso dizer, também ao sistema prisional brasileiro. Temos tantos guerreiros e guerreiras compromissados que o livro terá mais de um volume. A primeira edição estamos concluindo nos próximos dias.

 

Com a palavra nosso colega Thiago Robson.

 

Qual foi a impressão nos primeiros dias ou meses no sistema prisional paraibano e por onde começou, qual unidade?

Nos primeiros dias, foi um misto de incredulidade pelas cenas que eu jamais imaginei vivenciar, juntamente com uma sensação instintiva de receio pela própria vida. O odor fétido dos pavilhões, crianças lactantes atrás de grades em condições precárias, familiares em estado emocional visivelmente fragilizados, agentes penitenciários com armamentos obsoletos e improvisando procedimentos. Este era o cenário caótico dos primeiros dias, o que me fez compreender o porquê o edital do concurso previa três dias de folga para a profissão. No entanto, parafraseando Charles Darwin, acredito que não é o mais forte ou o mais inteligente que sobrevive, mas sim quem melhor se adapta às mudanças. E, no meu caso, os boletos foram grandes incentivadores dessa adaptação.

Diante desse panorama, busquei juntamente com meus colegas agentes penitenciários, assegurar a melhor prestação de serviço possível, e mesmo diante de limitações operacionais e estruturais; sobrevivemos aos primeiros meses.

Iniciei minha jornada na Penitenciária Júlia Maranhão, popularmente conhecida como bom pastor ou simplesmente Presídio feminino. À época do meu ingresso, na Penitenciária Júlia Maranhão, Unidade Prisional destinada ao cumprimento de pena por mulheres em regime fechado, semiaberto e aberto, apresentava, já à primeira vista, as marcas de um sistema de difícil compreensão. Era uma instituição para mulheres onde a estrutura arquitetônica original não considerava as especificidades de gênero, à época, as agentes penitenciárias do sexo feminino sequer dispunham de alojamento, o que as levava a permanecer ininterruptamente nas áreas internas do pavilhão, em um plantão que, na prática, as submetia a condições semelhantes à própria custodiada. Os familiares e visitantes também enfrentavam gigantescas dificuldades, não havia sequer bebedouros disponíveis, e as visitas ocorriam no interior das celas, uma prática que, embora institucionalmente tolerada, revela o grau de precariedade e vulnerabilidade a que todos estavam expostos.

Apesar das adversidades, foi nesse contexto que comecei a compreender, de forma profunda, a importância do papel institucional que me cabia. Mais do que uma estabilidade profissional, um contracheque ou um plantão sem fugas, percebi que minha missão exigia iniciativa, sensibilidade e um olhar voltado à transformação. Após uma experiência espiritual marcante durante um plantão, ao ler Hebreus 13:3 'Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles' compreendi que aquela vivência, apesar dos desafios significativos, moldou mais do que um servidor público, forjou um agente comprometido com a dignidade humana. Foi a partir desse despertar que surgiram iniciativas e projetos voltados à melhoria das condições de vida das pessoas privadas de liberdade.

Com o apoio de colegas e parceiros institucionais, iniciei a elaboração e implementação de projetos que buscavam responder, ainda que de forma modesta, às carências estruturais e humanas observadas no cotidiano da unidade. Uma das primeiras ações foi a mobilização para a doação de fraldas destinadas aos bebês lactantes que acompanhavam suas mães privadas de liberdade, uma iniciativa que, futuramente, evoluiria para a implantação do Projeto da Máquina de Fraldas, unindo dignidade infantil, capacitação e geração de renda.

Fui o autor do Projeto de Lei Estadual 11.449/2019, que instituiu a Semana Estadual de Assistência aos Familiares das Pessoas Privadas de Liberdade uma conquista que carrego com orgulho. Além disso, colaborei ativamente na construção e articulação de dezenas de outras iniciativas que impactaram positivamente presos, servidores e familiares, muitas das quais sequer têm meu nome associado diretamente. Modéstia à parte, não caberiam todas neste relato, mas é preciso destacar que nenhum desses avanços teria sido possível sem a união de esforços. Afinal, sozinho, não se vai longe.

Entre os projetos de maior relevância, destaco a idealização do projeto de produção de saneantes no sistema prisional e doação para hospitais; essa iniciativa foi reconhecida nacionalmente, levando-me à condição de finalista da 14ª edição do Prêmio Innovare. Ressalto, igualmente, a idealização das fábricas de fraldas, sandálias e vassouras, como formas de ressocialização produtiva. Promovi ainda a criação da cartilha digital “Guia do Visitante” e sua versão digital via QR Code, além de articular a aquisição e instalação de bebedouros nas áreas externas de algumas unidades prisionais para os familiares e criação de sala de estabilização sensorial para crianças com TEA e outras deficiências. No campo educacional e cultural, coordenei a realização da Semana de Arte e Cultura da Penitenciária de Psiquiatria Forense e articulei projetos como o Programa de Inclusão Através da Música e das Artes - PRIMA para filhos de pessoas privadas de liberdade.

É importante reconhecer que, junto às conquistas, também coleciono fracassos. Nem todas as iniciativas alcançaram os resultados esperados e há, ainda, uma dezena de projetos que permanecem como metas a serem concretizadas. E foi assim, entre grades, improvisos e fé, que dei os primeiros passos de uma jornada marcada por lutas, aprendizados e construção coletiva de dias melhores.

 

Passados esses anos, quais as funções/cargos que exerceu, exerce?

 

Foi na Penitenciária Feminina Júlia Maranhão que vivi minha primeira experiência prática no sistema  prisional  da  Paraíba    experiência    mencionada  anteriormente. A partir dessa experiência inicial, assumi diferentes funções que ampliaram significativamente minha atuação institucional.

Como ex-coordenador do Eixo Família da Gerência Executiva de Ressocialização, pude desenvolver ações voltadas ao acolhimento dos familiares das pessoas privadas de liberdade, pessoas estas que irracionalmente sofrem preconceito pelo simples fato de visitar seus parentes. Dentre as principais iniciativas, destaco o projeto Cidadania é Fortalecer Vínculos, que promoveu ações integradas para reduzir os impactos emocionais da separação familiar, a criação da cartilha “Guia do Visitante”, posteriormente convertida em versão digital acessível por QR Code afixado nas unidades prisionais, e a proposição do cadastro dos familiares nas Casas da Cidadania. Também idealizei ações afetivas e educativas como o Natal Solidário, voltado às crianças que visitam seus pais e mães no cárcere, e articulei campanhas de doação de brinquedos, kits de higiene e bebedouros para as áreas externas das unidades prisionais. Promovi, ainda, o levantamento estatístico de internos sem visita, ação fundamental para subsidiar políticas de atenção e reintegração, e coordenei atividades informativas, como palestras em parceria com o SINE-PB, que auxiliaram familiares e egressos na elaboração de currículos e preparação para entrevistas de emprego. Colaborei também, no âmbito do Conselho da Comunidade, o 1º casamento coletivo do sistema penitenciário paraibano, fortalecendo os vínculos familiares dentro da legalidade e com apoio institucional. Essas e outras iniciativas culminaram na sanção da Lei Estadual 11.449/2019, de minha autoria, que instituiu a Semana Estadual de Assistência aos Familiares das Pessoas Privadas de Liberdade, consolidando, em nível legislativo, o reconhecimento da importância da família como eixo estruturante da política de execução penal.

Atuar como Presidente do Conselho da Comunidade da Comarca de João Pessoa foi, e continua sendo, uma experiência profundamente transformadora, marcada por um sentimento de gratidão e propósito. Fui o primeiro policial penal a ser constituído presidente deste órgão. O Conselho é um espaço de escuta ativa, autonomia cidadã e liberdade de atuação, que me permitiu, junto a outros membros e parceiros, articular ações robustas voltadas à dignidade humana e à melhoria da execução penal. Foi também nesse espaço que desenvolvi, de forma prática, a habilidade de elaborar projetos e realizar articulações institucionais com diferentes órgãos públicos, entidades da sociedade civil e setores do sistema de justiça.

A partir dessa vivência, compreendi com ainda mais clareza que a política penitenciária precisa alcançar, de maneira equilibrada, três pilares essenciais: a pessoa privada de liberdade, seus familiares e os policiais penais. São esses três grupos que sustentam cotidianamente o sistema e que, não raro, enfrentam invisibilidades e negligências históricas.

Entre as muitas iniciativas realizadas, destaco a recente organização do primeiro casamento coletivo no sistema prisional da Paraíba — símbolo da preservação de vínculos familiares. Promovemos, ainda, ações que vão desde a assistência básica, como a instalação de bebedouros para visitantes, até iniciativas mais complexas, como articulações para inserção de familiares em programas sociais, mutirões de saúde, acesso à cultura, qualificação profissional e inserção produtiva.

O Conselho da Comunidade da Comarca de João Pessoa se consolidou como uma instância legítima de participação cidadã, com atuação comprometida e transformadora. Centenas de ações foram, e continuam sendo executadas por meio desse espaço plural, que se sustenta na coragem, na escuta sensível e na construção coletiva. Todas as iniciativas partem de um compromisso central, a valorização da dignidade humana e o fortalecimento do papel social da execução penal. Como bem define a juíza titular da Vara de Execução Penal, Dra. Andrea Arcoverde, o Conselho atua como um verdadeiro braço social da VEP, contribuindo diretamente para a efetividade dos direitos e o aprimoramento das políticas públicas no campo penal.

Como ponto focal da Paraíba na área de Assistência Religiosa, tive a responsabilidade de elaborar a minuta da Portaria Estadual que regulamenta a assistência religiosa nas unidades prisionais, documento construído com base em escuta interinstitucional e alinhado aos princípios da ética, segurança e respeito à liberdade de crença. Embora ainda não tenha sido oficialmente publicada, essa minuta representa um avanço técnico e institucional para garantir a atuação regularizada e plural da assistência religiosa no sistema penitenciário estadual.

No campo prático, atuei como Instrutor de Capelania Prisional, promovendo formações voltadas à atuação ética, humanizada e alinhada à legislação vigente. Vivenciei, ao longo dessa jornada, inúmeros relatos de transformação pessoal e social proporcionados pela espiritualidade, que, quando realizada com responsabilidade, contribui para restaurar vínculos, reduzir tensões e até mesmo evitar conflitos.

Além das ações formativas, fui responsável por fomentar eventos musicais e culturais nas unidades prisionais, proporcionando experiências marcantes por meio da arte e da fé. Destacam-se, entre essas iniciativas, as apresentações de grandes nomes do cenário musical cristão, como Rodolfo Abrantes, Grupo Logos e Salomão do Reggae, entre outros. Esses momentos, para além do impacto simbólico, representaram instantes reais de reconexão com a dignidade, com a esperança e com o valor humano de cada pessoa ali presente — internos, servidores e visitantes.

Como Gestor Estadual do Projeto PROCAP (Programa de Capacitação Profissional e Implementação de Oficinas Produtivas), atuo na coordenação estratégica e no fortalecimento das ações produtivas e educacionais dentro das unidades prisionais da Paraíba. Embora super desafiador, o PROCAP é uma grande fonte de qualificação e diminuição da reincidência quando executado.

Para além das funções formais que exerci ao longo dos anos, considero que minha principal contribuição ao sistema penitenciário tem sido como articulador institucional — alguém que atua na interseção entre diferentes setores, promovendo diálogos, construindo pontes e viabilizando parcerias estratégicas que transformam ideias em projetos concretos. Embora não exista, oficialmente, o cargo de “articulador institucional”, percebo que essa é, em essência, a função que venho desempenhando na prática, mobilizando pessoas, inspirando cooperação e reunindo esforços em torno de causas que promovam dignidade, inclusão e inovação no ambiente prisional.

Essa visão sistêmica, aliada à capacidade de articulação, sensibilidade social e habilidade para transitar entre diferentes eixos de atuação, foi sendo moldada e consolidada ao longo da trajetória, não apenas pelos acertos, mas também pelos erros que me ensinaram e fortaleceram. São essas características que me permitiram construir pontes entre o poder público, a sociedade civil, entidades religiosas, universidades, órgãos do sistema de justiça e o setor produtivo, resultando em projetos integrados, sustentáveis e com impacto real no cotidiano das pessoas privadas de liberdade, seus familiares e os servidores que operam o sistema.


Qual leitura você faz hoje do sistema prisional paraibano em comparação ao primeiro ano e quais lições/aprendizado você destacaria na sua trajetória profissional?

 

A grande lição que tiro da minha trajetória é que o sistema prisional não é falido embora, em muitos aspectos, esteja em estado crítico, ainda é plenamente possível reverter esse quadro. Costumo dizer que, se no plano macro nem sempre temos meios imediatos para promover transformações estruturais, no plano micro é possível e imprescindível fazer o seu melhor, todos os dias. Cada ação que realizo, por menor que pareça, carrega em si o potencial de gerar impacto positivo e inspirar mudanças mais amplas. Caminho com a convicção de que muitas pessoas e instituições com enorme capacidade de contribuição, mas que ainda não foram devidamente provocadas, ou precisam ser sensibilizadas e convencidas do seu papel nesse processo.

Outro aprendizado central foi perceber que o sistema prisional não se sustenta de forma isolada. A construção coletiva deixou de ser um ideal e passou a ser uma exigência. Projetos centrados em uma só figura tendem ao esgotamento; estruturas que ignoram a interdependência institucional caminham para a estagnação. A própria Lei de Execução Penal, em seu artigo 4º, nos lembra que a responsabilidade pela execução da pena é compartilhada com a comunidade. Embora isso devesse ser evidente e lógico, já que a segurança pública é, constitucionalmente, responsabilidade de todos, ainda há, na prática, um movimento de esquiva, quando o que se espera é corresponsabilidade.

Infelizmente, também aprendi que ações motivadas por vaidade pessoal ou por projetos egocêntricos costumam gerar retrocessos institucionais. Da mesma forma, teorias conspiratórias, geralmente gestadas por mentes inseguras criam ruídos desnecessários, minam o ambiente e dificultam a construção de soluções reais. Nessas horas, fica evidente o quanto o poder público ainda precisa aprender com a objetividade, a eficiência e a cultura de resultado típicas do setor privado, sobretudo quando o foco está no interesse coletivo e na entrega de valor social.

Portanto, se há algo que essa jornada me ensinou com profundidade, é que enquanto houver pessoas dispostas a agir, haverá sempre um caminho possível, mesmo quando o sistema parece estar na UTI.

 

  

Para você, o que representa ser policial penal, integrar a mais jovem Força de Segurança Pública da Paraíba?

 

Para mim, ser policial penal é muito mais do que integrar uma estrutura de contenção ou vigilância. É ter a consciência de que lidamos, ao mesmo tempo, com o privado de liberdade, mas também com famílias em sofrimento e com servidores que também enfrentam suas próprias batalhas. Ao contrário das demais forças, cuja atuação está majoritariamente centrada na repressão e na prevenção, a Polícia Penal atua no pós-delito, naquilo que o sistema muitas vezes negligencia, mas que é determinante para a segurança pública de longo prazo, ou seja, a ruptura do ciclo da reincidência.

Com a efetiva implantação de políticas de ressocialização, capacitação profissional e trabalho prisional, a Polícia Penal passa a operar não apenas como garantidora da ordem interna, mas como vetor de reintegração. E essa reintegração, quando bem conduzida, representa um retorno concreto para o Estado. A redução dos índices de reincidência penal, o alívio do sistema judiciário e prisional e, sobretudo, a possibilidade de retorno financeiro direto, que, conforme a Lei de Execução Penal, parte do salário dos presos que trabalham volta aos cofres públicos para custeio da própria manutenção carcerária.

Ou seja, ao promover trabalho digno, formação cidadã e ocupação produtiva, a Polícia Penal deixa de ser apenas custo e passa a representar investimento com retorno mensurável, tanto em termos de segurança quanto em termos econômicos. Isso nos confere um papel institucional único e reforça a importância de fortalecer essa nova carreira com políticas sérias, estrutura adequada e servidores valorizados.

Ser policial penal, portanto, é ter a chance real de transformar realidades e fazer do cárcere não o fim da linha, mas o ponto de virada para centenas de vidas e para o próprio Estado.

Ser policial penal, para mim, é resistir, propor e agir. É estar onde muitos não querem estar, e ainda assim, fazer valer cada esforço como oportunidade de transformação.

 

 

         Quais os desafios seus enquanto agente essencial nesse processo de formação da Polícia Penal e por consequência na evolução do sistema prisional do estado?

 

Os desafios que enfrentei e continuo enfrentando enquanto agente essencial na formação da Polícia Penal e na evolução do sistema prisional paraibano são múltiplos, complexos e, muitas vezes, silenciosos. O que exige fé e cuidados com a saúde mental.

O primeiro deles foi romper com a lógica da mera contenção, que historicamente definiu o dia a dia do cárcere. Trabalhar por uma nova mentalidade institucional exige não apenas conhecimento técnico, mas coragem para propor, insistir e resistir em ambientes historicamente avessos à inovação. Principalmente, quando qualquer projeto ou iniciativa tem como público o privado de liberdade ou seu familiar, corre-se o risco de ser pejorativamente rotulado de “direitos humanos” e ser interpretado como policial ingênuo ou frágil, o que impossibilita qualquer forma de ascensão funcional ou nomeação para cargos relevantes, visto que o perfil do policial operacional e tático é mais valorizado, o que exige bastante jogo de cintura e estratégias para seguir e mitigar os danos resultantes dessa atuação e perfil dissonante.

Ainda assim, acredito que esse é o caminho necessário e possível para que a Polícia Penal se fortaleça não apenas como força de segurança, mas como agente legítimo de reconstrução social.

Outro grande desafio é atuar em um sistema ainda carente de estrutura, mas talvez o desafio mais sutil e mais constante tenha sido combater o isolamento institucional. Entender que a Polícia Penal só se fortalece com a participação da sociedade civil, com a articulação entre poderes e com o reconhecimento de que ninguém constrói política pública sozinho foi determinante para minha atuação. O Conselho da Comunidade, por exemplo, foi um espaço fundamental para desenvolver essa visão ampliada. Nele, percebi que o policial penal pode e deve ser também formulador de soluções.

  

Opine sobre essa produção literária dos últimos anos específica sobre o sistema prisional, a Polícia Penal. Você considera relevante contribuir, ser personagem, autor de artigos, de livros neste campo, escrevendo as primeiras páginas da história quase centenária da Seap- PB?

 

A produção literária dos últimos anos voltada ao sistema prisional e à Polícia Penal tem sido não apenas relevante, mas essencial. Estamos diante de uma oportunidade histórica de registrar, com voz própria, a construção de uma recente estrutura policial, de uma nova cultura e de uma nova consciência sobre o papel da execução penal na sociedade paraibana. Ver a Polícia Penal sair do silêncio intramuros e institucional para ocupar páginas e livros é, por si só, um avanço.

Sinto-me profundamente honrado em fazer parte desse processo, não apenas como personagem da história que se escreve todos os dias nas unidades prisionais, mas também como alguém que escolheu contribuir ativamente com ideias, reflexões e experiências. Ser autor, ou coautor, nesse campo é uma forma de garantir que os aprendizados, os desafios e as soluções não se percam com o tempo, mas sirvam de base para os que virão depois de nós. Como diria Sócrates, “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”.

 

 

escreveu ou pretende escrever livro autoral ou com colegas parceiros sobre temáticas relacionadas ao sistema prisional?

 

Sim, pretendo. A experiência acumulada ao longo dos anos no sistema prisional, especialmente no campo da assistência religiosa, despertou em mim não apenas a necessidade, mas o compromisso de transformar vivências em conteúdo acessível e estruturado. Já iniciei a organização de um livro autoral voltado à assistência religiosa no cárcere, abordando os aspectos legais, operacionais e sobretudo metafísicos e humanos.

 

PERFIL

 

Nome completo: THIAGO ROBSON DOS SANTOS LOPES

Local e data de nascimento: JOÃO PESSOA, 20/11/1985

 Formação:

 

Graduado em Game Design 


Graduado em Inteligência Artificial


Graduando em Ciências da Computação

Pós-Graduação em Perícia Forense Computacional

Pós-Graduação em Cibersegurança, Direito Digital e Segurança de Dados

Pós-Graduação em Desenvolvimento e Engenharia de Software, Inteligência Artificial e Inteligência de Dados

Pós-Graduação em Direitos Humanos e Segurança Pública

 

  Ingresso no Sistema Penitenciário da Paraíba: 2009

 

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