sexta-feira, 16 de maio de 2025

ENTREVISTA: Ivana Ribeiro e sua trajetória na SEAP Paraíba

  A semana termina com Ivana Ribeiro, em entrevista para o livro Policiais Penais da Paraíba - Perfis.




Qual foi a impressão nos primeiros dias ou meses no sistema prisional paraibano e por onde começou, qual unidade?


Ingressei no sistema prisional em 2012, e, naquela época, tive o privilégio de escolher onde gostaria de iniciar minha trajetória profissional. Optei pela Penitenciária de Recuperação Feminina Maria Júlia Maranhão, uma escolha que carrego com muito orgulho até hoje.


Os primeiros dias sempre são desafiadores, regados a incertezas e adaptações que exigia muito além de um preparo físico e emocional, enxergar os outros como seres humanos, mesmo diante de seus desvios de comportamento, é um exercício constante, especialmente em um ambiente onde se percebe que a execução da lei penal é muito mais complexa do que parece à primeira vista.


Passados esses anos, em quais unidades prisionais atuou e quais as funções/cargos exerceu? Nos conte tópicos de sua trajetória até aqui. 



Iniciei minha trajetória profissional na Penitenciária de Recuperação Feminina Maria Júlia Maranhão, onde adquiri uma compreensão sólida da rotina e da dinâmica do sistema prisional. 

Após alguns anos, em busca de novos desafios e crescimento na carreira, participei de uma seleção interna para o Curso de Escolta e Apoio a Recapturas, o que me habilitou a ingressar na Força Tática Penitenciária, integrando a turma pioneira.

Mesmo atuando na área de Escolta e Recapturas, continuei investindo na minha formação por meio de cursos internos e externos, que me credenciaram para atuar no Grupo Penitenciário de Operações com Cães.

Posteriormente, fui nomeada Chefe de Almoxarifado da Penitenciária Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes – PB1, onde tive a oportunidade de vivenciar a rotina de uma unidade prisional masculina, ampliando ainda mais minha experiência no sistema penitenciário.

Com o passar dos anos, assumi o cargo de Diretora Adjunta do Complexo Agroindustrial de Mangabeira e após mudanças administrativas, deixei a função e passei a atuar na Penitenciária Desembargador Flóscolo da Nóbrega, integrando a equipe de revistas da unidade. Nesta mesma unidade prisional, surgiu a oportunidade de exercer a função de sindicante, para a qual fui convidada pela direção em razão da minha formação e experiência.

Anos depois, recebi o convite da gestão do Secretário Dr. João Alves para integrar a equipe de Assessores da Chefia de Gabinete da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária, onde venho contribuindo com a gestão estratégica da pasta.

Gostaria de destacar, ainda, minha atuação como docente voluntária na futura Academia de Polícia Penal, atualmente denominada Escola de Gestão Penitenciária. Nessa escola de polícia, lecionei disciplinas como Execução Penal, Ética e Profissionalismo, entre outras, reafirmando meu compromisso com a formação e o desenvolvimento dos profissionais da área.


Qual leitura você faz hoje do sistema prisional paraibano em comparação ao primeiro ano e quais lições/aprendizado você destacaria na sua trajetória profissional?


Atualmente, são notórios os avanços no sistema prisional paraibano em comparação ao cenário do meu primeiro ano de atuação (2012), é possível perceber avanços significativos que marcaram uma trajetória de evolução e amadurecimento institucional. 

Um dos pontos mais notáveis, ao meu ver, diz respeito à qualificação dos servidores, pois, atualmente, é raro encontrar um policial penal que não possua formação superior, e muitos já contam com especializações nas mais diversas áreas ligadas à segurança pública, gestão prisional e direitos humanos. 

Esse avanço reflete diretamente na qualidade do serviço prestado e na postura profissional da categoria.

Além da valorização do capital humano, também houve um importante investimento por parte do governo em equipamentos.

Essa modernização dos instrumentos de trabalho tem contribuído de forma direta para otimizar a atuação dos policiais penais, tornando o ambiente prisional mais seguro e eficiente. 

Recursos como tecnologias de monitoramento, viaturas e criação de emblema representativo demonstram um comprometimento com a estruturação do sistema.

É verdade que ainda há desafios no sistema prisional, por sua natureza complexa, que exigem constante aprimoramento, mas é inegável o quanto já avançamos. 

Essa trajetória me ensinou que mudanças estruturais e valorização dos profissionais caminham juntas para a construção de um sistema mais justo, seguro e eficiente.

  O aprendizado mais valioso, sem dúvida, é perceber que o investimento em pessoas e em condições de trabalho é o caminho mais sólido para transformar realidades.


Para você, o que representa ser policial penal, integrar a mais jovem Força de Segurança Pública da Paraíba?


Embora seja uma polícia oficialmente nova, com reconhecimento mais recente dentro do sistema de segurança pública, suas atribuições são antigas e historicamente fundamentais para a manutenção da ordem e da justiça.

Integrar a Polícia Penal é estar na linha de frente de uma transformação, lidando com desafios complexos, muitas vezes invisíveis à sociedade, mas essenciais para o funcionamento da segurança pública como um todo.

Quais os desafios seus enquanto agente essencial nesse processo de formação da Polícia Penal e por consequência na evolução do sistema prisional do estado?


Atuar como docente na Escola de Gestão Penitenciária tem sido, para mim, uma das experiências mais significativas da minha trajetória profissional. 

Contribuir diretamente com a formação dos policiais penais é uma responsabilidade que ultrapassa a transmissão de conhecimento técnico, afinal, a missão é inspirar, orientar e preparar policiais conscientes da importância do seu papel na sociedade.

Nesse sentido, o investimento na Academia de Polícia é essencial, sendo ela a porta de entrada da carreira onde temos a oportunidade de moldar a cultura institucional, promover a valorização da profissão e despertar o sentimento de pertencimento. Quanto mais estruturada for essa etapa inicial, mais preparados e conscientes estarão os policiais penais para enfrentar os desafios diários e contribuir com a evolução do sistema como um todo.

Tenho plena convicção de que, ao formar com responsabilidade os policiais penais do presente, estamos preparando os líderes, gestores e agentes transformadores do futuro. 

E é essa esperança que me move: a de que cada aula, cada orientação e cada troca de experiência tem o potencial de impactar positivamente não apenas a segurança pública atual, mas também as gerações que virão.


Opine sobre essa produção literária dos últimos anos específica sobre o sistema prisional, a Polícia Penal. Você considera relevante contribuir, ser personagem, autor de artigos, de livros neste campo, escrevendo as primeiras páginas da história quase centenária da Seap-PB?


Considero toda produção literária de grande relevância, especialmente quando voltada à realidade institucional. 

Essas obras contribuem significativamente para a construção de um acervo que preserva memórias, compartilha experiências e orienta práticas futuras. 

Mais do que relatos de experiências, essas produções eternizam aprendizados, fortalecem a identidade da Polícia Penal e serve como referência valiosa para as próximas gerações de policiais.


Já escreveu ou pretende escrever livro autoral ou com colegas parceiros sobre temáticas relacionadas ao sistema prisional?


Sim, possuo experiência na escrita de capítulos de livros, tanto na área da educação quanto no contexto do sistema prisional, além de publicações em revistas e artigos científicos.

Uma das obras é “Mulheres que fazem acontecer no Sistema Penitenciário da Paraíba”, publicada em 2024, uma coletânea pioneira no país escrita por 36 mulheres.

As vivências com a produção acadêmica me permitiram contribuir para a disseminação de conhecimento, o fortalecimento do debate qualificado e o registro de experiências relevantes, que podem servir como referência para profissionais e pesquisadores dessas áreas.


PERFIL 

Nome completo: Ivana Leite Ribeiro 

Local e data de nascimento: João Pessoa 

Formação: Cursos/Especializações Mestrado em Educação; Especialista em Direito Penal; Especialista em Direito Digital; Bacharela em Direito.

Ingresso no Sistema Penitenciário da Paraíba: 2012


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