quinta-feira, 15 de maio de 2025

Entrevista com Stanley Gusmão: "A produção literária recente sobre o sistema prisional e a Polícia Penal é, sem dúvida, não apenas necessária, mas também urgente"

 


         O policial penal Stanley Gusmão, um pesquisador com expertise em algumas áreas, é nosso entrevistado de hoje para o livro Policias Penais da Paraíba - PERFIS.

 


Qual foi a impressão nos primeiros dias ou meses no sistema prisional paraibano e por onde começou, qual unidade?

 

A primeira impressão foi a de ter atravessado para um mundo paralelo — um universo à parte, delimitado por grades, concreto e olhares desconfiados. O som seco do portão de ferro se fechando atrás de mim ainda ecoa na memória, como se selasse o início de uma travessia sem retorno. Fui designado para a Penitenciária de Segurança Máxima Dr. Romeu Gonçalves de Abrantes – PB1, mas, por um equívoco, acabei me apresentando na Penitenciária Criminalista Geraldo Beltrão. Era meu primeiro contato real com o sistema, e, embora não soubesse na época, aquele dia marcaria o começo de uma longa e intensa jornada no universo penitenciário.

 

Passados esses anos, em quais unidades prisionais atuou e quais as funções/cargos exerceu? Nos conte tópicos de sua trajetória até aqui.

 

·        Penitenciária de Segurança Máxima Criminalista Geraldo Beltrão

Designado para exercício em 17/10/2012, logo após a nomeação em concurso público.

 

·        Gerência de Inteligência e Segurança Orgânica Penitenciária (GISOP)

Designado em 03/10/2018 à 03/04/2024

 

·        Penitenciária de Regime Especial Desembargador Francisco Espínola

Nomeado como Diretor Adjunto em 21/12/2020 exonerado do cargo em 06/09/2022.

 

·        Penitenciária Regional Padrão de Catolé do Rocha

Desempenhei a função de Diretor na Unidade na Intervenção de Força Tarefa na Unidade – de 01/06/2021 a 30/06/2021

 

·        Escola de Gestão Penitenciária – EGEPEN

Atual

 

Na Penitenciária de Segurança Máxima, iniciei minha atuação como plantonista, posteriormente assumindo a função de coordenador de plantão. Nesse período, estive diretamente envolvido com a alimentação e gestão de dados prisionais nos sistemas INFOPEN e SIAPEN, além de ser responsável pelos aspectos técnicos de informática da unidade.

Após anos de dedicação à área de forense computacional e mobile — e já com uma Especialização em Inteligência Prisional de Segurança Pública e de Estado — fui convidado a integrar a Gerência de Inteligência e Segurança Orgânica Penitenciária (GISOP). Nesse setor, atuei em diversas frentes da Contrainteligência, participando de operações estratégicas dentro e fora do estado, representando a Inteligência e a SEAP/PB em missões de relevância institucional e de Segurança Pública.

Em seguida, fui designado para a Penitenciária de Regime Especial Desembargador Francisco Espínola, com a missão de fortalecer o Complexo do PB1. Lá, ajudei a consolidar o primeiro núcleo de inteligência da unidade, criando um elo fundamental entre a penitenciária e a Gerência de Inteligência, otimizando o fluxo de informações estratégicas.

Mais recentemente, dei mais um passo na carreira ao assumir funções no setor pedagógico da EGEPEN – Escola de Gestão Penitenciária - com o propósito de contribuir com a formação continuada dos policiais penais e, futuramente, colaborar na formação das novas gerações da Polícia Penal, fortalecendo ainda mais o capital humano da segurança pública paraibana.

 

Qual leitura você faz hoje do sistema prisional paraibano em comparação ao primeiro ano e quais lições/aprendizado você destacaria na sua trajetória profissional?

 

O sistema penitenciário paraibano vem se profissionalizando significativamente desde a chegada dos primeiros servidores concursados em 2009, marcando o início de uma nova identidade institucional. Essa evolução culminou na transformação do antigo cargo de agente penitenciário para policial penal — uma mudança que não apenas reconheceu os direitos da categoria, mas também ampliou suas responsabilidades. Com isso, consolida-se um modelo de gestão mais justo, eficiente e comprometido com a legalidade, a segurança e, sobretudo, com a ressocialização da pessoa privada de liberdade.

 

Nos fale um pouco mais sobre a missão de dirigir uma unidade prisional, tarefa que depende muito de uma equipe articulada, qualificada e compromissada.

 

Tive a oportunidade de integrar as fileiras do Alpha-10 como Diretor Adjunto, compondo uma equipe estratégica dentro do Complexo Penitenciário PB1. Nesse papel, vivenciei de perto os desafios que transcendem o simples controle da população carcerária. A gestão da unidade envolvia uma série de aspectos complexos, como o abastecimento de água e energia, a organização das visitas externas, a segurança interna e externa, a administração das escalas de serviço, o convívio entre os policiais penais e a aplicação rigorosa de procedimentos disciplinares.

Além disso, estive à frente da delicada tarefa de alocar presos conforme sua tipificação criminal, suas ligações com facções, decretos de morte, envolvimento em crimes de repercussão, e outros processos que permeiam a rotina de uma unidade prisional.

Durante esse período, também participei de uma força-tarefa de intervenção na Penitenciária Regional Padrão de Catolé do Rocha, onde atuei como diretor por 30 dias. Junto à equipe de intervenção e aos dedicados plantonistas da unidade, fui responsável por estabilizar a situação e assegurar o funcionamento da unidade.

Essas experiências foram fundamentais para compreender, na prática, a complexidade da gestão prisional e a importância de um trabalho integrado e estratégico para a manutenção da ordem e segurança dentro das unidades.

 

 Para você, o que representa ser policial penal, integrar a mais jovem Força de Segurança Pública da Paraíba?

 

Sendo bem sincero, acredito que poucos, ou quase ninguém, cresceram sonhando em se tornar policial penal ou em lidar diretamente com a complexa realidade da população carcerária brasileira. No entanto, ao longo da caminhada em busca da aprovação em um concurso público, o destino reuniu homens e mulheres valorosos que hoje compõem as fileiras da SEAP/PB.

Com o passar dos dias, do serviço e da vivência na rotina prisional, tornou-se claro o verdadeiro significado da missão assumida: exercer, com firmeza e humanidade, o papel essencial da Polícia Penal na sociedade. Cabe a nós garantirmos o cumprimento das penas impostas pelo Judiciário àqueles que transgridem as normas sociais, ao mesmo tempo em que buscamos, com profissionalismo e respeito à dignidade humana, contribuir para a reintegração social dos apenados."

  

Quais os desafios seus enquanto agente essencial nesse processo de formação da Polícia Penal e por consequência na evolução do sistema prisional do estado?

 

Ao longo desses anos, enfrentei desafios complexos e transformadores no exercício da minha função como Agente de Segurança Penitenciária, especialmente durante um dos períodos mais marcantes da história do sistema prisional paraibano: a transição institucional que culminou na criação da Polícia Penal. Essa trajetória foi marcada por conquistas, aprendizados e um compromisso constante com a evolução da categoria e da segurança pública.

Reconhecimento e valorização da categoria, adaptação à nova identidade institucional, atuação em unidades de alta complexidade, contribuição para a inteligência e segurança institucional, liderança e gestão com foco humano e formação continuada e comprometimento ético

 

Opine sobre essa produção literária dos últimos anos específica sobre o sistema prisional, a Polícia Penal. Você considera relevante contribuir, ser personagem, autor de artigos, de livros neste campo, escrevendo as primeiras páginas da história quase centenária da Seap-PB?

 

A produção literária recente sobre o sistema prisional e a Polícia Penal é, sem dúvida, não apenas necessária, mas também urgente. Ela desempenha um papel crucial na construção da memória institucional, na análise crítica e na valorização de uma categoria que, por muitos anos, foi negligenciada e mantida à margem das discussões sobre segurança pública.

Refletir sobre essa produção é, portanto, refletir sobre o papel e o protagonismo dos servidores que, ao longo de anos, sustentaram o funcionamento do sistema prisional, enfrentando desafios enormes — muitas vezes sem o reconhecimento merecido. A emergência dessa narrativa é fundamental para que a história da Polícia Penal seja contada por aqueles que realmente a vivenciaram e que, com dedicação, contribuíram para sua construção.

Não se pode tratar de segurança pública sem abordar o sistema penitenciário, uma vez que todas as articulações e ações relacionadas ao crime organizado estão, muitas vezes, dentro das unidades prisionais, onde os reeducandos passam a maior parte de suas vidas. Assim, a compreensão do sistema prisional é essencial para qualquer estratégia de segurança pública eficaz.

 

Já escreveu ou pretende escrever livro autoral ou com colegas parceiros sobre temáticas relacionadas ao sistema prisional?

 

Tive o privilégio de conhecer pessoas honrosas dentro da segurança pública, cujas orientações e apoio abriram portas tanto na área operacional quanto na literária. Foram esses encontros que me incentivaram a contribuir com artigos na Revista Brasileira de Execução Penal – DEPEN, no terceiro volume do livro Inteligência, Segurança Pública e Organização Criminosa e no livro Polícia Penal em Foco.

Além disso, tive a oportunidade de participar de diversas palestras em outros Estados e instituições de segurança pública e de Ensino, bem como em eventos nacionais, abordando temas relacionados à perícia forense e ao sistema penitenciário.

E por fim, temos sim planos em escrever um livro autoral sobre o sistema penitenciário e também com colegas que têm e muito a contribuir em livros sobre assuntos da área.

  

PERFIL

 

Nome completo: Stanley Gusmão de Paiva       

Local e data de nascimento: Santo André / SP – 01/06/1977

Formação: Cursos/Especializações

 

·        2012 - 2014 Especialização em MBA Executivo em Gestão de Tecnologia da Informação.

Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife, Brasil

Título: Interferência da Tecnologia da Informação no Sistema Penitenciário do Estado da Paraíba

Orientador: Christiane Maria Leite Pereira

 

·        2013 - 2015 Especialização em Inteligência Prisional de Segurança Pública e de Estado.

Faculdade de Comunicação Tecnologia e Turismo de Olinda, FACOTTUR, Olinda, Brasil

Título: Gestão da Segurança da Informação no Sistema Penitenciário do Estado da Paraíba

Orientador: Jerlyane Dayse M. D. Santos

 

·        2008 - 2011 Graduação em Sistema de Informação.

Fundação Joaquim Nabuco, FUNDAJ, Recife, Brasil

Título: Teste em Sistema de Informação

Orientador: Ivaldir Junior

  

Desde 2015, venho me dedicando ao estudo da área de forense digital, com foco em perícia computacional e mobile. Ao longo desse período, concluí diversos cursos voltados para ferramentas de extração de dados, análise de evidências digitais e aplicação rigorosa da cadeia de custódia.

 Ingresso no Sistema Penitenciário da Paraíba: 26/09/2012

 

 

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