O policial penal Stanley Gusmão, um pesquisador com expertise em algumas áreas, é nosso entrevistado de hoje para o livro Policias Penais da Paraíba - PERFIS.
Qual foi a impressão nos primeiros
dias ou meses no sistema prisional paraibano e por onde começou, qual unidade?
A
primeira impressão foi a de ter atravessado para um mundo paralelo — um
universo à parte, delimitado por grades, concreto e olhares desconfiados. O som
seco do portão de ferro se fechando atrás de mim ainda ecoa na memória, como se
selasse o início de uma travessia sem retorno. Fui designado para a
Penitenciária de Segurança Máxima Dr. Romeu Gonçalves de Abrantes – PB1, mas,
por um equívoco, acabei me apresentando na Penitenciária Criminalista Geraldo
Beltrão. Era meu primeiro contato real com o sistema, e, embora não soubesse na
época, aquele dia marcaria o começo de uma longa e intensa jornada no universo
penitenciário.
Passados esses anos, em quais
unidades prisionais atuou e quais as funções/cargos exerceu? Nos conte tópicos
de sua trajetória até aqui.
·
Penitenciária de Segurança Máxima
Criminalista Geraldo Beltrão
Designado
para exercício em 17/10/2012, logo após a nomeação em concurso público.
·
Gerência de Inteligência e Segurança
Orgânica Penitenciária (GISOP)
Designado
em 03/10/2018 à 03/04/2024
·
Penitenciária de Regime Especial
Desembargador Francisco Espínola
Nomeado
como Diretor Adjunto em 21/12/2020 exonerado do cargo em 06/09/2022.
·
Penitenciária Regional Padrão de Catolé do
Rocha
Desempenhei
a função de Diretor na Unidade na Intervenção de Força Tarefa na Unidade – de
01/06/2021 a 30/06/2021
·
Escola de Gestão Penitenciária – EGEPEN
Atual
Na
Penitenciária de Segurança Máxima, iniciei minha atuação como plantonista,
posteriormente assumindo a função de coordenador de plantão. Nesse período,
estive diretamente envolvido com a alimentação e gestão de dados prisionais nos
sistemas INFOPEN e SIAPEN, além de ser responsável pelos aspectos técnicos de
informática da unidade.
Após
anos de dedicação à área de forense computacional e mobile — e já com uma Especialização
em Inteligência Prisional de Segurança Pública e de Estado — fui convidado a
integrar a Gerência de Inteligência e Segurança Orgânica Penitenciária (GISOP).
Nesse setor, atuei em diversas frentes da Contrainteligência, participando de
operações estratégicas dentro e fora do estado, representando a Inteligência e
a SEAP/PB em missões de relevância institucional e de Segurança Pública.
Em
seguida, fui designado para a Penitenciária de Regime Especial Desembargador
Francisco Espínola, com a missão de fortalecer o Complexo do PB1. Lá, ajudei a
consolidar o primeiro núcleo de inteligência da unidade, criando um elo
fundamental entre a penitenciária e a Gerência de Inteligência, otimizando o
fluxo de informações estratégicas.
Mais
recentemente, dei mais um passo na carreira ao assumir funções no setor
pedagógico da EGEPEN – Escola de Gestão Penitenciária - com o propósito de
contribuir com a formação continuada dos policiais penais e, futuramente,
colaborar na formação das novas gerações da Polícia Penal, fortalecendo ainda
mais o capital humano da segurança pública paraibana.
Qual leitura você faz hoje do sistema
prisional paraibano em comparação ao primeiro ano e quais lições/aprendizado
você destacaria na sua trajetória profissional?
O
sistema penitenciário paraibano vem se profissionalizando significativamente
desde a chegada dos primeiros servidores concursados em 2009, marcando o início
de uma nova identidade institucional. Essa evolução culminou na transformação
do antigo cargo de agente penitenciário para policial penal — uma mudança que
não apenas reconheceu os direitos da categoria, mas também ampliou suas
responsabilidades. Com isso, consolida-se um modelo de gestão mais justo,
eficiente e comprometido com a legalidade, a segurança e, sobretudo, com a
ressocialização da pessoa privada de liberdade.
Nos fale um pouco mais sobre a missão
de dirigir uma unidade prisional, tarefa que depende muito de uma equipe
articulada, qualificada e compromissada.
Tive
a oportunidade de integrar as fileiras do Alpha-10 como Diretor Adjunto,
compondo uma equipe estratégica dentro do Complexo Penitenciário PB1. Nesse
papel, vivenciei de perto os desafios que transcendem o simples controle da
população carcerária. A gestão da unidade envolvia uma série de aspectos
complexos, como o abastecimento de água e energia, a organização das visitas
externas, a segurança interna e externa, a administração das escalas de
serviço, o convívio entre os policiais penais e a aplicação rigorosa de
procedimentos disciplinares.
Além
disso, estive à frente da delicada tarefa de alocar presos conforme sua
tipificação criminal, suas ligações com facções, decretos de morte,
envolvimento em crimes de repercussão, e outros processos que permeiam a rotina
de uma unidade prisional.
Durante
esse período, também participei de uma força-tarefa de intervenção na
Penitenciária Regional Padrão de Catolé do Rocha, onde atuei como diretor por
30 dias. Junto à equipe de intervenção e aos dedicados plantonistas da unidade,
fui responsável por estabilizar a situação e assegurar o funcionamento da
unidade.
Essas
experiências foram fundamentais para compreender, na prática, a complexidade da
gestão prisional e a importância de um trabalho integrado e estratégico para a
manutenção da ordem e segurança dentro das unidades.
Sendo
bem sincero, acredito que poucos, ou quase ninguém, cresceram sonhando em se
tornar policial penal ou em lidar diretamente com a complexa realidade da
população carcerária brasileira. No entanto, ao longo da caminhada em busca da
aprovação em um concurso público, o destino reuniu homens e mulheres valorosos
que hoje compõem as fileiras da SEAP/PB.
Com
o passar dos dias, do serviço e da vivência na rotina prisional, tornou-se
claro o verdadeiro significado da missão assumida: exercer, com firmeza e
humanidade, o papel essencial da Polícia Penal na sociedade. Cabe a nós garantirmos
o cumprimento das penas impostas pelo Judiciário àqueles que transgridem as
normas sociais, ao mesmo tempo em que buscamos, com profissionalismo e respeito
à dignidade humana, contribuir para a reintegração social dos apenados."
Quais os desafios seus enquanto
agente essencial nesse processo de formação da Polícia Penal e por consequência
na evolução do sistema prisional do estado?
Ao
longo desses anos, enfrentei desafios complexos e transformadores no exercício
da minha função como Agente de Segurança Penitenciária, especialmente durante
um dos períodos mais marcantes da história do sistema prisional paraibano: a
transição institucional que culminou na criação da Polícia Penal. Essa
trajetória foi marcada por conquistas, aprendizados e um compromisso constante
com a evolução da categoria e da segurança pública.
Reconhecimento
e valorização da categoria, adaptação à nova identidade institucional, atuação
em unidades de alta complexidade, contribuição para a inteligência e segurança
institucional, liderança e gestão com foco humano e formação continuada e
comprometimento ético
Opine sobre essa produção literária
dos últimos anos específica sobre o sistema prisional, a Polícia Penal. Você
considera relevante contribuir, ser personagem, autor de artigos, de livros
neste campo, escrevendo as primeiras páginas da história quase centenária da
Seap-PB?
A
produção literária recente sobre o sistema prisional e a Polícia Penal é, sem
dúvida, não apenas necessária, mas também urgente. Ela desempenha um papel
crucial na construção da memória institucional, na análise crítica e na
valorização de uma categoria que, por muitos anos, foi negligenciada e mantida
à margem das discussões sobre segurança pública.
Refletir
sobre essa produção é, portanto, refletir sobre o papel e o protagonismo dos
servidores que, ao longo de anos, sustentaram o funcionamento do sistema
prisional, enfrentando desafios enormes — muitas vezes sem o reconhecimento
merecido. A emergência dessa narrativa é fundamental para que a história da
Polícia Penal seja contada por aqueles que realmente a vivenciaram e que, com
dedicação, contribuíram para sua construção.
Não
se pode tratar de segurança pública sem abordar o sistema penitenciário, uma
vez que todas as articulações e ações relacionadas ao crime organizado estão,
muitas vezes, dentro das unidades prisionais, onde os reeducandos passam a
maior parte de suas vidas. Assim, a compreensão do sistema prisional é
essencial para qualquer estratégia de segurança pública eficaz.
Já escreveu ou pretende escrever
livro autoral ou com colegas parceiros sobre temáticas relacionadas ao sistema
prisional?
Tive
o privilégio de conhecer pessoas honrosas dentro da segurança pública, cujas
orientações e apoio abriram portas tanto na área operacional quanto na
literária. Foram esses encontros que me incentivaram a contribuir com artigos
na Revista Brasileira de Execução Penal – DEPEN, no terceiro volume do livro
Inteligência, Segurança Pública e Organização Criminosa e no livro Polícia
Penal em Foco.
Além
disso, tive a oportunidade de participar de diversas palestras em outros Estados
e instituições de segurança pública e de Ensino, bem como em eventos nacionais,
abordando temas relacionados à perícia forense e ao sistema penitenciário.
E
por fim, temos sim planos em escrever um livro autoral sobre o sistema
penitenciário e também com colegas que têm e muito a contribuir em livros sobre
assuntos da área.
PERFIL
Nome completo: Stanley
Gusmão de Paiva
Local e data de
nascimento: Santo André / SP – 01/06/1977
Formação:
Cursos/Especializações
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2012 - 2014 Especialização
em MBA Executivo em Gestão de Tecnologia da Informação.
Universidade
Federal de Pernambuco, UFPE, Recife, Brasil
Título:
Interferência da Tecnologia da Informação no Sistema Penitenciário do Estado da
Paraíba
Orientador:
Christiane Maria Leite Pereira
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2013 - 2015 Especialização
em Inteligência Prisional de Segurança Pública e de Estado.
Faculdade
de Comunicação Tecnologia e Turismo de Olinda, FACOTTUR, Olinda, Brasil
Título:
Gestão da Segurança da Informação no Sistema Penitenciário do Estado da Paraíba
Orientador:
Jerlyane Dayse M. D. Santos
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2008 - 2011 Graduação
em Sistema de Informação.
Fundação
Joaquim Nabuco, FUNDAJ, Recife, Brasil
Título:
Teste em Sistema de Informação
Orientador:
Ivaldir Junior
Desde
2015, venho me dedicando ao estudo da área de forense digital, com foco em
perícia computacional e mobile. Ao longo desse período, concluí diversos cursos
voltados para ferramentas de extração de dados, análise de evidências digitais
e aplicação rigorosa da cadeia de custódia.
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