domingo, 8 de junho de 2025

ENTREVISTA Breno Cavalcanti Cunha

 


    

O relato de hoje é do colega policial penal Breno Cavalcanti Cunha, para o livro Policiais Penais da Paraíba - PERFIS. Vale a pena conhecer sua história inspiradora.


Quando fui convidado para participar do projeto literário “Policiais Penais da Paraíba”, fiquei imaginando como fazer minha apresentação. 

Na abertura do romance "Moby Dick" de Herman Melville é dita a famosa frase: “— Chamem-me Ismael" - marcando o início da jornada narrada por ele. No meu caso, será pretencioso falar  “— Chamem-me Breno Cunha?”  - Brincadeiras à parte, meu nome é Breno Cavalcanti Cunha, nasci em 17 de julho de 1966 em Recife/PE. Fui acolhido pela querida cidade de João Pessoa há 13 anos, em minha segunda vinda para o estado da Paraíba. Casei duas vezes e possuo três filhos como fruto desses matrimônios.  Entrei para a Secretaria de Administração Penitenciária via concurso público em 2008, sendo nomeado em 27 de setembro de 2012.

Minha formação é bastante eclética, sendo fundamentalmente com base em ciências humanas, como segue abaixo:

Graduação em Marketing pela Faculdade de Tecnologia Gestão e Marketing (2010); 

Especialização em Logística e Comercio Exterior pelo Instituto Brasileiro de Gestão e Marketing-IBGM (2013); 

Especialização em Inteligência Prisional de Segurança Pública e de Estado pela Faculdade de Comunicação e Turismo de Olinda FACOTTUR (2015); 

Aperfeiçoamento para Educador no Contexto Prisional - UFPB (2016); 

Aperfeiçoamento Formador de Material Didático e Mediador de Leitura para EJA - UFPB (2018);

Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade Tecnologia de Capacitação - FTEC (2023);

Especialista em Gestão Escolar pela Faculdade Aberta do Tocantins – FAT (2024);

Atualmente, desempenho as funções de Diretor do Centro Socioeducativo Edson Mota-CSE, que pertence à Fundação Desenvolvimento da Criança e do Adolescente “Alice de Almeida”  – FUNDAC-PB; Diretor Presidente da ASSOCIACAO DE APOIO E ASSISTÊNCIA ÁS PESSOAS EM ESTADO DE VULNERABILIDADE de João Pessoa; Presidente do Conselho da Comunidade do Município de Santa Rita-PB; Instrutor de Direitos Humanos da Escola de Gestão Penitenciária - EGEPEN PB e Instrutor de Direitos Humanos nos cursos de formação continuada para Socioeducação, Diretoria técnica da FUNDAC. 

Ao ingressar no Sistema Penitenciário da Paraíba, enfrentei grandes desafios nos primeiros dias — e nos primeiros meses. Fui imediatamente impactado por uma avalanche de estigmas e paradigmas que cercam esse universo. Romper com crenças e preconceitos nunca é simples, mas o tempo — esse senhor de todas as coisas — ensina, molda e nos ajuda a compreender, adaptar e superar. 

Recordo muito bem de minha chegada na Unidade de entrada no sistema, a Penitenciária Desembargador Silvio Porto, da qual trago muitas lembranças. Tenho muito a agradecer aos que me receberam naquela unidade Prisional: diretores, agentes, prestadores de serviço e inclusive os internos ou reeducando — as Pessoas Privadas de Liberdade (PPL) — Todos têm algo para nos oferecer; todos possuem uma importância singular. Tenho um carinho especial à equipe de direção que sempre esteve presente e que compartilharam tantos momentos complicados, como também alguns um tanto divertidos. Fui designado para o plantão “C”. Recordo-me de estar tão nervoso por adentrar um ambiente que me era completamente estranho, que não largava o terço que trazia no bolso — meu armamento principal contra minhas inseguranças. 

Uma curiosidade é que fiz minha estreia na visita de domingo. Após a entrada dos visitantes, notei uma fumaça com cheiro diferente, que persistiu até bem depois do final das visitas. A consequência é que no dia seguinte, quando cheguei em casa após o plantão, tinha tanto sono que adormeci por quase 24 horas. Até hoje fico imaginado do que se tratava.

Na caminhada pelo Sílvio Porto, exerci diversas funções: agente de pátio, armeiro, chefe de manutenção e coordenador de plantão. Estas experiências abriram caminho para exercer as funções de Diretor do Complexo Agroindustrial de Mangabeira, gestor do Almoxarifado Central do Sistema Prisional da Paraíba e posteriormente, Diretor do Centro Socioeducativo Edson Mota da FUNDAC. Foram muitas as atribuições e desafios. 

Minha afinidade e aproximação com a educação em prisões me levou a participação no curso de formação de “Educador no contexto prisional para Educação de Jovens e Adultos e o curso de Produção de Material Didático e Formação de Mediadores de Leitura para a Educação de Jovens e Adultos, ambos pela UFPB.  

Como trabalho de conclusão do primeiro curso, nossa equipe — formada pelos professores Eliane Aquino, Breno Cunha (eu), Max Silva, Josefa Rosélia, Sérvio Túlio, Cira Maia, João Batista e Leandro Santos apresentou a proposta de criação de Escolas prisionais que não fossem meras extensões instituições extramuros, mas unidades próprias, destinadas a garantir o direito à educação das pessoas privadas de liberdade. Essa proposta deu origem ao projeto de implantação de Escola Técnica Estadual de Educação de Jovens e Adultos no contexto prisional da Penitenciária Desembargador Silvio Porto). 

Assim, pelo decreto nº 36.907, de 15 de setembro de 2016, foi criada a EEEFM Graciliano Ramos, em João Pessoa, seguida pelo decreto nº 36.908 que instituiu a  EEEFM Paulo Freire, em Campina Grande e o decreto nº 36.909 que criou a EEEFM Ariano Villar Suassuna, em Cajazeiras. 

Na criação da primeira escola prisional, participei de intenso processo seletivo e tive a honra de ser seu primeiro gestor, exercendo esse honroso cargo por quatro anos consecutivos. Fui o primeiro diretor da EEEFM Graciliano Ramos e o primeiro policial penal a assumir a função de direção de uma unidade escolar no Estado da Paraíba. Minha nomeação foi oficializada pelo Ato Governamental nº 1.278 de 12 de abril de 2019.

Nesta caminhada, ladeado pela educação em prisões, desenvolvemos trabalhos significativos, os quais, compartilhados com a então Coordenadora de Educação em Prisões, Professora Eliane Maria de Aquino, e sua equipe, resultaram em feitos de grande relevância. 

Por dois anos consecutivos, realizamos o evento ‘Arte e Educação na Prisão’, que revelou muitos talentos. Também publicamos o anuário “Maritaca”, nos anos de 2015 e 2016, que, por  iniciativa do então Major Josinaldo da Cunha Lima, registrou as realizações da unidade ao longo de dois anos. 

A parceria com A SEECT foi fundamental. Realizamos a abertura de salas de aula na unidade Sílvio Porto, numa ação conjunta entre a SEAP, a SEECT e Vara de execuções Penais da Capital. A justiça conseguiu parte do numerário, a Educação forneceu material de construção; e a equipe de manutenção do Sílvio Porto, auxiliada pelo Curso de Pedreiro e Mestre de Obras, executou a obra. 

A nossa mão de obra dos próprios reeducandos foi essencial. Finalizamos nossa passagem com a Escola mais bem estruturada da capital dentro de uma unidade prisional. Tiro o chapéu para cada um desses parceiros que nos auxiliaram na caminhada por uma educação mais humanizada e abrangente. 

Tivemos, por fim, a criação da “Banda de reeducandos” e o “Coral”, ambos abraçados com entusiasmo por professores, reeducandos e pela própria Vara de Execuções Penais. Estes últimos sempre abrilhantaram os eventos da unidade. 

O Coral, em especial, foi aplaudido de pé no encontro de corais da UFPB. O maestro Daniel Berg e Sergio Gerard foram parceiros insubstituíveis nessa jornada. 

São ações como essas que reforçam a máxima: ninguém faz nada sozinho! 

Meu respeito e carinho a todos que participam da minha caminhada no Sistema Prisional da Paraíba.

Na passagem desses anos, a caminhada por diversas unidades foi natural, assim como os diversos cargos e funções. 

Meu primeiro contato com o sistema prisional foi na Penitenciária Desembargador Sílvio Porto, onde atuei como agente de pátio — tanto nos plantões regulares quanto nos extras —, coordenador de plantão, chefe de manutenção e responsável pela articulação com a educação no contexto prisional. 

Foi essa última função que mais me realizou, por me permitir trabalhar com convicção de que estávamos oferecendo, dentro das possibilidades, as ferramentas concretas para a transformação daqueles que estavam sob nossa custódia.

Fui transferido para a direção da Penitenciária Agrícola da Mangabeira e, posteriormente, para a chefia do Almoxarifado Central do Sistema Penitenciário da Paraíba. Em seguida, assumi a direção adjunta da Penitenciária Feminina Maria Julia Maranhão. 

Nessa passagem, tive o privilégio de trabalhar em um ambiente orquestrado por mulheres, que me ensinaram muito e contribuíram para meu crescimento, tanto profissional quanto pessoal. Tenho carinho e respeito por todas as queridas colegas que me acompanharam nessa jornada.

Estimulado pela atuação na Coordenação de Educação em Prisões, e com o aval da Vara de Execuções Penais, tive a honra de ocupar o Cargo de primeiro Gestor da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Graciliano Ramos. Esse foi um sonho realizado graças a pessoas como Dr. Carlos Neves e Dra. Andrea Arcoverde, da Vara de Execuções Penais da Capital, bem como da professora Eliane Aquino e da Professora Mara, da SEECT. 

Após muitas entrevistas e etapas, assumi a gestão da primeira escola no contexto prisional do Estado da Paraíba. Permaneci nessa função por quatro anos muito felizes e frutíferos. Aprendi com cada profissional: professores, agentes e alunos, todos deixaram marcas na minha trajetória.

Um dos trabalhos mais estimulantes e desafiadores foi o desenvolvimento de projetos como o de Remição pela Leitura, com o apoio de professores como Reginilda da Silva Vaz, Jerlyane Dayse Santos, Osman Matos, Rosana Luna, Audrey Araripe, entre outros igualmente essenciais que ajudaram a transformar a vida de muitos alunos reclusos. 

Parafraseando Paulo Freire, que afirmou: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”, atrevo-me a completar:  a leitura transforma pessoas — e pessoas podem mudar suas próprias vidas.

Passada a terrível pandemia, em novembro de 2022, fui convidado para prestar serviço na Fundação de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente Alice de Almeida – FUNDAC, onde atuo atualmente como diretor do Centro Socioeducativo Edson Mota. 

Este novo desafio tem posto à prova todo conhecimento acumulado e exigido de mim a quebra de muitos paradigmas. Meu crescimento como ser humano tem sido constante, e o aprendizado, diário. 

O contato com os agentes socioeducativos e com os profissionais multisetoriais fortalece minha prática e amplia minha visão como educador, gestor, policial, pai... e ser humano.

Se me perguntarem qual leitura faço atualmente do Sistema Prisional da Paraíba, em comparação ao meu primeiro ano de entrada, e quais lições ou aprendizados obtive em minha trajetória profissional, me vem rapidamente à memória que, ao chegar ao sistema, em 2012, minha visão inicial era de que havia retornado ao serviço militar.

Rapidamente, o contraste com minhas experiências anteriores na caserna entrou em conflito com a nova realidade: a forma de tratamento com os colegas, a hierarquia dentro do Sistema Prisional, a maneira de lidar com os apenados... Tudo destoava das vivências que eu trazia.

Sempre soube que aqueles ali reclusos eram seres humanos — pessoas, não feras — e os tratei, desde o início, com respeito e dignidade. Muito embora houvesse certo romantismo, se é que posso dizer assim, sabia que eram sentenciados. Mas, para mim, pouco importava o passado de cada um, pois sempre enxerguei a pessoa. E, ao enxergar o ser humano, torna-se mais fácil conviver — e esperançar.

Esperançar por mudanças no homem.

Todos possuem diversas facetas, e sei que algumas não são tão bonitas. No geral, trata-se de pessoas com histórias, famílias, acertos e tropeços. Ainda acredito na mudança, mesmo após tanto tempo.

Aprendi que muitas das vezes, por mais que queiramos, as circunstâncias não ajudam na transformação. Eles terão que retornar para as mesmas comunidades, as mesmas amizades, vão ter fome, sede, como qualquer outra pessoa, e muitas vezes retornarão para as mesmas práticas. Há um certo determinismo cruel, mas quando se cria um objetivo, onde se espera e se trabalha com a resiliência necessária e suficiente, milagres acontecem. Mudanças podem ocorrer. Tenho exemplos de reeducandos que saíram da penitenciária e hoje concluíram cursos superiores, e se realizam com suas profissões: dentista, enfermeira, radiologista, chefe de cozinha, magarefe, e muitos outros. Traficar e roubar não são mais opções na vida de muitos. Mas não podemos, nos casos adversos, apenas ensinar a pescar. Devemos fornecer os meios necessários para que estes outros possam ter acesso aos meios de produção e superação. Eu ainda acredito.

Retomando nossa conversa sobre minhas passagens pelas Unidades Prisionais, gostaria de ressaltar que, em todas que dirigi — e ainda dirijo — no âmbito da Unidade de Reclusão, percebo que essa trajetória me permite falar um pouco dessa missão, que depende, essencialmente, de uma equipe articulada, qualificada e compromissada. Na gestão de unidades, aprendi que ninguém faz nada sozinho. Se há sucesso, ele é de responsabilidade de todos — assim como o fracasso. Não é possível ser onipresente ou onipotente: sempre dependeremos do apoio dos membros de nossa equipe.

O grande divisor de águas está em conseguir trabalhar as pessoas para que se complementem, respeitem as limitações uns dos outros e deixem de competir para, em vez disso, colaborar. Antes de procurar um culpado, é preciso buscar soluções. A chefia só se impõe quando não há liderança que estimule, oriente, apoie e direcione o grupo. Um ambiente de trabalho leve e humanizado é essencial para a eficiência e eficácia da gestão, já que uma equipe madura e bem treinada é o sonho de qualquer gestor. Com o passar dos anos no sistema, aprendemos que o bom gerenciamento de pessoas é o que realmente traz produtividade. Temos muitos profissionais excelentes que, muitas vezes, só precisam de reconhecimento e incentivo para brilharem.

Fico refletindo sobre o que é ser policial penal, sobre integrar a mais jovem Força de Segurança Pública da Paraíba, e me sinto muito bem representado ao ver, atualmente, as realizações de tantos colegas — como a criação de forças-tarefa que estão moldando a nova cara do sistema.

Temos desafios hercúleos, que, com muita competência, vêm sendo superados. A principal característica desse novo momento é que, com formação continuada, estamos ocupando novos espaços. Mesmo diante de entraves políticos, o profissionalismo tem prevalecido, e o nível dos nossos policiais vem sendo reconhecido nacional e internacionalmente.

Lembro, com orgulho, da comissão formada para atuar no Peru, em 2023 — uma ação que recebeu moção de aplauso da Câmara de Vereadores de João Pessoa no mesmo ano. O intercâmbio de conhecimentos e o apoio direto na formação de 120 policiais naquele país foi um feito meritório para o nosso sistema e para o Estado da Paraíba.

No meu caso, posso citar minha participação, em 2021, como palestrante, na etapa da América do Sul e Caribe da International Conference on Adult Education - CONFINTEA VII, onde fui convidado pela “UNESCO” para falar das experiências da educação em prisões na Paraíba. Este evento internacional trata da educação de adultos e é realizado há cada 12 ou 13 anos, internacionalmente. Estivemos presentes, convidados pela Cátedra da UNESCO da Universidade Federal da Paraíba, por indicação do Prof. Dr. Timothy Ireland, pelo qual tenho muito respeito e admiração.

No campo literário, atuei como coautor do Livro: Banho de Sol:  pessoas privadas de liberdade, relatos de vida - volume I, ao lado dos professores Rosana Freire e Osman Matos. A obra foi premiada como uma das melhores experiências de todo o país enviadas para compor a programação do 13º Seminário Internacional Biblioteca Viva, durante a 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo - 2022, e apresentada no Salão Nobre do Centro de Convenções Rebouças, além de ter sido apresentada na V CONANE - 2023 Conferência Nacional de Alternativas para uma outra Educação – UnB Faculdade de Educação Brasília DF e no IX Encontro Nacional de Execução Penal – IX ENEP – 2022, realizado pelo IBEP – Instituo Brasileiro de Execução Penal e Defensoria Pública da Paraíba.

São estes fatos que demonstram nossa participação no engrandecimento e visibilidade do Sistema, da educação e do Estado paraibano, que muitas vezes passam desapercebidos.

Não há novidades quanto aos desafios que, enquanto agentes, nesse processo de formação da Polícia Penal — e, por consequência, na evolução do sistema prisional do estado — temos que enfrentar.

Acredito que a grande provocação enfrentada pelo sistema é continuar se retroalimentando com ações afirmativas e positivas, aprender com as que não obtiveram sucesso e seguir superando.

É preciso constante aprendizado, constante resiliência para não parar, não desistir, nem se deixar influenciar pelo negativismo. Reinventar-se, valorizar nossos quadros — que são o maior patrimônio desta Secretaria — e seguir adiante.

Eu diria que esperançar, sonhar, planejar e executar com sabedoria é o que trará um sistema menos inchado, mais justo e verdadeiramente humanizado.

Com relação às produções literárias dos últimos anos — em especial, do grupo de servidores escritores — considero extremamente relevantes suas contribuições.

O ato de se tornar personagem, autor de artigos ou de livros neste campo, escrevendo as primeiras páginas da história quase centenária da Seap-PB, precisa ser estimulado.

Em toda a minha caminhada pela educação — especialmente na educação em prisões, conforme os relatos anteriormente apresentados — não poderia deixar de me posicionar completamente favorável a essas produções.

Me inspiram nomes apaixonados pela literatura, como o Policial Penal Josélio Carneiro, o Professor Osman Matos, o Policial Penal Stanley G. de Paiva, o Coronel Onivan Elias, o Coronel Walber Rufino, entre tantos outros que apenas confirmam: não vivemos em uma “sociedade de poetas mortos”, mas sim em uma sociedade viva e pulsante.

Meu carinho e respeito a todos que ousam pegar a caneta

Quando fui provocado sobre se já havia escrito, ou se pretendia escrever um livro autoral — ou em parceria com colegas — sobre temáticas relacionadas ao Sistema Prisional, não pude deixar de lembrar da 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo - 2022.

Guardo boas lembranças dessa aventura memorável ao lado dos professores Osman Matos e Rosana Luna Freire, onde participamos juntos da construção do livro Banho de Sol:  pessoas privadas de liberdade, relatos de vida - volume I, uma experiência sem paralelos, e foi, certamente, um presente generoso — não apenas dos professores já mencionados, mas também dos internos que, com coragem, abriram suas vidas para a publicação.

Mas existem alguns temas recorrentes que ainda me desafiam — como a reflexão sobre a educação ser tratada como “privilégio”, em vez de um direito. Essa ideia me inquieta profundamente.

Outro tema que me atrai é a história da Socioeducação na Paraíba. O projeto do professor Timothy, desenvolvido na Penitenciária de Segurança Máxima Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes — e premiado pela UFPB em 2022 — é uma história que eu gostaria de contar ao lado dele.

No PB-01, foi realizado o projeto Cartas, Palavras e Conversas Entre Nós, uma caminhada literária conduzida com o apoio da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Foram muitos encontros marcantes, cheios de desafios, descobertas e revelações, especialmente ao adentrarmos uma população carcerária em regime diferenciado.

Esse universo reforça em mim o desejo de “esperançar” — e me inspira a vencer a procrastinação para quem sabe, transformar essas vivências em novos projetos literários.

Me despeço com um quê de que faltaram ainda alguns relatos e impressões... Mas, quem sabe, esses fiquem guardados para um próximo livro.


PERFIL


Breno Cavalcanti Cunha

Policial Penal do Estado da Paraíba

Diretor do Centro Socioeducativo Edson Mota – FUNDAC-PB

Ex-diretor da EEEFM Graciliano Ramos

Educador, palestrante e defensor da educação como instrumento de transformação social

João Pessoa, Paraíba Inverno de 2025


2 comentários:

  1. “Há homens que carregam fardas. Outros, que vestem causas. E há Breno, que veste o ser humano — mesmo os privados de liberdade, que já foram rasgados pelas margens da sociedade.”
    (Osman Matos)

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  2. FLORES NO ASFALTO: A JORNADA DE UM EDUCADOR PENAL
    (Osman Matos)
    Há textos que nos informam. Outros que nos comovem. Mas há ainda aqueles que nos transformam — e esse é o caso do relato de Breno Cavalcanti Cunha, policial penal, educador e diretor pioneiro da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Graciliano Ramos, na Paraíba.
    Entre as chaves dos cadeados, as palavras e a missão de educar no cárcere, conheci Breno como colega de caminhada nos campos da educação prisional. Eu enfatizo o olhar humanizado e a atuação de Breno dentro do sistema prisional.
    Nossos caminhos se cruzaram em projetos que buscavam, com teimosia e esperança, fazer brotar flores no asfalto duro das unidades prisionais. E o que mais me impressionou, desde o início, foi sua capacidade de olhar para dentro das grades e enxergar gente. Gente que errou, sim — mas gente, com rosto, nome, história e possibilidade de mudança.
    Este texto que você tem em mãos é mais do que uma autobiografia profissional. É um testemunho de fé na educação, de compromisso com a justiça social e de amor ao ofício. Breno nos guia por sua trajetória com sinceridade, leveza e firmeza. Compartilha memórias, aprendizados, desafios e conquistas com a generosidade de quem não quer brilhar sozinho, mas iluminar com sua luz o caminho dos outros. Ele é uma luz no cárcere com seu ofício de educar com compromisso e dignidade. É quando realmente a Educação encontra a coragem.
    Eu, como escritor, professor e parceiro de projetos como o livro Banho de Sol: Pessoas Privadas de Liberdade – Relatos de Vida – Vol. I, que além da coautoria de Breno Cunha, teve também teve a participação da professora Rosana Freire, posso afirmar com convicção: Breno escreve com a mesma dignidade com que vive. Sou testemunho de um profissional que supera desafios, tem fé e que transforma. E ao fazer isso, oferece a todos nós um exemplo de servidor público íntegro, de educador comprometido e de ser humano que não se contenta em apenas cumprir funções, mas em transformar realidades.
    Que essa leitura inspire novos olhares para o Sistema Prisional da Paraíba e do Brasil, para a socioeducação e, sobretudo, para o poder que a palavra tem de erguer, tocar e reconstruir vidas.
    ______________________
    Osman Matos
    Professor, escritor e parceiro de utopias realizáveis

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