terça-feira, 10 de junho de 2025

SER MILITAR: QUANDO A FARDA NÃO SAI, NEM COM SABÃO!




Tem coisa que a gente até tenta largar, mas não larga da gente. Ser militar é uma delas. Você pode até pendurar a farda, dobradinha no armário da vida. Mas basta cruzar a rua — e lá está você, olhando pros dois lados, ajeitando os ombros, com aquela passada firme como quem ainda vai receber ordem de serviço a qualquer momento.


É como se a farda tivesse costurada por dentro da pele. Pode até sair do contracheque… mas do DNA? Nem com ordem expressa.


Outro dia, lendo uma provocação do amigo acadêmico Carlos Braga, me peguei pensando: “Será que a gente deixa mesmo de ser militar quando pendura a farda?” A resposta veio fácil, quase em forma de saudade: não. Porque o militarismo não é só o que se veste — é o que se leva, o que se carrega no olhar, no gesto, no silêncio respeitoso. É aquele corte de cabelo que denuncia o veterano no caixa do supermercado. É o sorriso cúmplice entre antigos colegas, como quem compartilha um segredo de caserna.


Braga lembrou uma coisa séria, daquelas que a gente às vezes esquece: o posto e a patente não são herança, nem joia de família. São concessões. Do Estado, sim — mas também da vida, da história e do suor. Não dá pra anunciar no classificado: “Vende-se capitão, pouquíssimas multas.” Não. Conquista-se com tempo, com tropeço, com disciplina. E uma vez conquistado, meu caro, é igual tatuagem de coração no braço: pode até se arrepender um dia — mas sair, não sai.


E o mais bonito é perceber como essa identidade sobrevive à farda. Aposentou? Foi pra reserva? Virou "civil de farda invisível"? Nada disso. Basta alguém perguntar sua profissão. Você responde qualquer coisa — contador, agricultor, motorista de Uber — mas quem olha nos seus olhos vai saber: ali já teve ordem unida, já teve escala de plantão, já teve ombro amigo depois de missão difícil.


No fundo, ser militar é coisa que fica. É o tipo de ofício que não tem botão de desligar. A missão entra na corrente sanguínea. E segue. Nos gestos, nas escolhas, até no jeito de dobrar a toalha em casa.


A vida muda, claro. Troca-se o rancho pela fila do mercado, o IPM pelo IPTU, o “sentido!” pelo “bom dia, vizinho!”. Mas a essência... ah, essa fica. Porque farda, meu amigo, minha amiga, pode até sair do corpo. Mas do coração? Só se for com decreto — e olhe lá!


Então, quando te virem por aí, com a postura ereta e aquele olhar de quem já segurou firme o bastão da responsabilidade, saiba: você não é ex-nada. Você é mais. É memória viva de uma missão que continua.


Porque, convenhamos, ser militar é vestir a seriedade da vida com alma de missão. E disso, a gente não se aposenta.


Um abraço!


Walber Rufino, 10.06.2025

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